“Somos um pouco de tudo. Até já servi de electricista para ajudar a ligar uns cabos. A parte de enfermagem é muito importante, sem dúvida, mas a componente humana é que faz a diferença”, considera Paulo Cunha, 33 anos, 12 de enfermagem, os últimos quatro nos cuidados de saúde primários. Actualmente colocado na Unidade de Saúde Familiar (USF) de Villa Longa, Vialonga (Vila Franca de Xira), onde está a ser criada uma Unidade de Cuidados à Comunidade, está afecto à visitação domiciliária.
foto jOSÉ mOTA/gLOBAL iMAGENS |
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Num dia normal de trabalho, faz entre 22 e 28 visitas a doentes com os mais diversos problemas. “Cerca de 90% dos nossos utentes têm mais de 65 anos e as complicações associadas à idade: úlceras varicosas, ou seja, feridas devido a má circulação, e pés diabéticos, mas também existem muitos acamados e dependentes.“
O grande número de casos que tem para atender é a maior dificuldade com que este enfermeiro se depara: “Gosto de dar toda a minha disponibilidade às pessoas, conversar com elas, saber como vai a vida, porque tudo influencia o estado de saúde, e com este volume de trabalho, é difícil”.
Assistência 365 dias por ano
Não são poucas as vezes que o Enfermeiro João Barbadães Pereira e os seus colegas da Equipa de Cuidados Continuados Integrados do Centro de Saúde n.º 1 de Chaves fazem quase duas horas de viagem para visitar os doentes que seguem, todos os dias do ano, incluindo fins-de-semana e feriados. “Recentemente, acompanhei uma senhora, durante um ano, duas vezes por dia, duas horas de cada vez. Estabelece-se uma relação de grande proximidade. Quando algum dos nossos utentes parte, é como se fosse um familiar”, diz João Pereira.
“Psicólogos” da família
“No domicílio, criam-se laços afectivos que não se fazem no hospital. Somos o amigo a quem podem recorrer quando têm problemas, não só de saúde, mas de todo o género. Os idosos estão cada vez mais sozinhos e desprotegidos”, conta o Enfermeiro Bruno Azevedo, da USF de S. Simão da Junqueira, em Vila do Conde. “Sabem quando vamos e estão à nossa espera para conversar um bocadinho. Somos um pouco psicólogos, tanto dos doentes como das famílias”, acrescenta este profissional, que faz as visitas de táxi porque a USF não tem meios para comprar mais uma viatura.
Um dos pontos mais importantes para João Pereira é apoiar as famílias. “É fundamental que os cuidadores sintam que não estão sozinhos. O meu lema é chegar sempre com um sorriso e, ao despedir-me, ver sempre um sorriso na cara de quem fica.”
A ansiedade de não saber amamentar
Ana Isabel Melo tinha tido a Verónica há quatro dias quando foi visitada pela Enfermeira Cláudia Pires, do Centro de Saúde n.º 1 de Chaves. O apoio à amamentação e o teste do pezinho são as prioridades da primeira visita de um enfermeiro especialista em saúde materna.
Para esta cabeleireira de 34 anos e para o marido – pais pela primeira vez -, tudo é novidade e assustador. “Mas, quando os temos nos braços, é mais fácil do que imaginávamos”, confessa. Ainda assim, as dúvidas são muitas.
“O receio de não saber cuidar, a ansiedade perante o choro e as dúvidas quanto à amamentação são as principais dificuldades das mães“, explica a enfermeira que já acompanhou centenas de mulheres durante a gravidez e depois do parto. O despiste de problemas de vinculação entre a mãe e o bebé e de depressão pós-parto são outras mais-valias do acompanhamento precoce.
As visitas a puérperas e recém-nascidos são apenas uma parte do trabalho ao domicílio daquele centro de saúde. À Equipa de Cuidados Continuados Integrados calham as situações mais complexas: doentes oncológicos, grandes dependentes, com múltiplas lesões, que precisam de cuidados 365 dias por ano.
“Temos formação para lidar com os aspectos técnicos, mas a parte emocional é a mais difícil. Há muitas situações de pobreza, solidão e doença sem resposta”, resume João Barbadães Pereira.(FONTE : JN Artigo 2 JN)